Porque haverá toda esta adoração em torno dos vampiros da saga Twilight? Portugal não é excepção e prevê-se invasão das salas a partir de quinta-feira, data da estreia do segundo filme da série: Lua Nova, realizado por Chris Weitz. Fenómeno de marketing e fenómeno dos tempos, esta nova celebração romântica de Hollywood é essencialmente uma marca da actual cultura pop adolescente. É algo geracional. Esmiuçamos algumas pistas…
A saga Twilight tem destas coisas. Se pensarmos que não há nenhum adolescente da civilização ocidental que não esteja contaminado pela febre dos vampiros, começamos também a pensar que há qualquer coisa de impositivo, de fascista nisto. Será que os nossos jovens de hoje pensam todos da mesma maneira? Serão obrigados? Será que elas se identificam todas com a atracção de Bella pelo vampiro Edward Cullen? E os rapazes, querem ter todos os bíceps do lobisomem Jacob? Ou, sendo mais práticos, porque será que tem de haver ciclicamente fenómenos teen destes?!? A interrogação e a exclamação levam-nos a reflectir em dois factores – o modo como a literatura de best-sellers carbura e a vampirização desta por Hollywood. Importa aqui relembrar a quem anda em Marte que os quatro romances de Stephenie Meyer são campeões de vendas em todo o mundo e que a primeira adaptação ao cinema, Crepúsculo, realizada por Catherine Hardwicke, tornou-se num gigante blockbuster para o estúdio, a Summitt, uma espécie de produtora independente que está a transformar-se em emergente peça de Hollywood. Depois, claro, há uma espécie de histeria mediática. As revistas adolescentes lavam os cérebros aos adolescentes com a cultura dos posters e de um mexerico globalizado e o resto da imprensa endeusa os actores, novos ídolos de um tempo novo do panorama das celebridades de Hollywood. Dizer que Robert Pattinson e Kristen Stewart são autênticos escravos da fama a uma escala sem precedentes é ser ligeiro. Desde que o fenómeno estoirou, ambos têm sido perseguidos e confundidos como personagens de um reality show sem tréguas, mesmo quando estão sucessivamente em filmagens (o próximo filme da saga, Eclipse, já estará filmado). Por estes dias, só se fala do penteado do rapaz, da eventual discussão entre ele e ela na vida real, e por aí adiante. O filme, que supostamente tenta ser fiel às páginas de Meyer, funciona como triângulo amoroso entre Bella, Edward e Jacob. Bella, que é deixada por Edward, o vampiro que sacrifica o seu amor para lhe garantir a maior segurança. Depois, a amizade por Jacob começa a ganhar contornos românticos. Jacob que, por seu turno, se torna uma espécie de anjo da guarda de Bella ao mesmo tempo que descobre que é um lobisomem. Uma coisa é garantida: Robert Pattinson, que se tornou numa espécie de sex-symbol para os jovens adultos, aparece menos desta vez. No próximo, Eclipse, este vampiro pálido tem mais tempo de ecrã, coisa que deixará muita adolescente feliz da vida. Pattinson, que se tinha estreado no terceiro Harry Potter, é seguramente o novo Leonardo DiCaprio em termos de adoração feminina. Se morresse tornar-se-ia o novo James Dean. Por muito que os encarregados de educação estrebuchem, algum do fascínio desta história de amor passa por uma exploração da quota do desejo virginal dos adolescentes. No limite, desde Titanic que Hollywood não recuperava tão bem o filão romântico, ou, se quisermos, um certo espírito de amor impossível, decorado, claro, com corpos atraentes e um erotismo à lei da metáfora com os vampiros e a animalidade lobisomem.
Tantos vampiros
Música para vampiros
Alexandre Desplat é neste momento o príncipe das bandas sonoras. Um compositor francês que não pára de ganhar prémios e ser nomeado aos Óscares. Desplat tem uma nova aproximação à arte de compor para filmes. Para começar, muda sempre de tom de filme para filme. Depois, socorre-se do facto de ser francês para as suas orquestrações terem um refinamento diferente. Em Portugal, durante o Estoril Film Festival, sentou-se com a nm numa esplanada de Cascais e contou-nos como foi fazer música para o fenómeno do cinema mais esperado do ano. Música para vampiros. «Apesar de ter filhas que são fanáticas do fenómeno Twilight, tentei abstrair-me de toda essa loucura. Para começar, recusei-me a ver o primeiro filme e nem quis ouvir a sua banda sonora. Não quis ser influenciado, quanto mais não seja porque a partitura era do Carter Burwell, um excelente compositor. Por outro lado, o desafio aqui, para mim, não era fazer música para acompanhar as cenas de acção e de efeitos visuais. O realizador queria algo épico», explica. E acrescenta: «Nem sei se teria aceite este projecto se não fosse o Chris. Tive muito prazer quando fiz para ele a música de A Bússola Dourada. O segredo é que se trata de um cineasta que fala francês e que tem um grande fraquinho pela cultura francesa. Confio na sua competência.» E ao acompanhar a música de Desplat estão uma série de canções de artistas do indie rock que compuseram especialmente para o filme. Temas de Editors, Thom York, Killers ou Bon Iver são francamente bons. Desplat não teve voto na encomenda nem na escolha dos grupos mas aprova com um polegar bem levantado: «Na maior parte das vezes os compositores têm demasiado pouco tempo para comporem uma banda sonora. Falta-nos sempre tempo para podermos estar igualmente envolvidos nas escolhas e na elaboração das canções com outros artistas. Muitas vezes – a maior parte delas – também ninguém nos convida. E nós podíamos realmente ajudar», lembra. Apesar de este francês se ter lançado no jogo das bandas sonoras do cinema americano apenas em 2003, no seu currículo já se contam colaborações com cineastas como Stephan Frears, Wes Anderson, Peter Webber ou Ang Lee. Para o ano que vem, a sua inspiração será testada nos novos de Terrence Malick, The Tree of Life, e Roman Polanski, The Ghost. Ou seja, é o compositor da moda: «Quando enfrento esses grandes nomes do cinema torna-se complicado… Sou muito tímido. No outro dia apresentaram-me o Francis Ford Coppola e parecia uma criança de 12 anos. Nem consegui olhá-lo nos olhos. O melhor disto de trabalhar com lendas do cinema é que o desafio torna-se maior e a paixão fica mais acesa. Por exemplo, trabalhar com o Malick foi mesmo fascinante, ele é um grande conhecedor de música erudita. Posso desde já dizer que The Tree of Life é de uma beleza imensa.»
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